sexta-feira, 25 de abril de 2014
O MITO da PRODUTIVIDADE
Recentemente Belmiro de Azevedo gerou polémica com a seguinte citação: “Os Salários só podem aumentar quando um trabalhador Português tiver a mesma Produtividade que um Alemão ou Inglês, e isto pura e simplesmente porque os Alemães, por hora, fazem quatro vezes mais que os Portugueses.” Ora, isto dito desta forma parece induzir numa realidade aparente, e sem contraditório para muitos. Mas, na minha opinião, nada mais falacioso. Considero esta tirada populista e demagógica. Mais ainda, de um provincianismo bacoco. Como sempre, procuro a seguir fundamentar a minha opinião.
Numa análise muito simples e redutora, começo por vos dizer que um empregado de caixa num supermercado na Alemanha não trabalha quatro vezes mais que um empregado numa função idêntica num supermercado Continente em Portugal. Será que um cabeleireiro na Alemanha corta o cabelo quatro vezes mais rápido que em Portugal? Será que um cozinheiro num restaurante é quatro vezes menos ineficiente que na Alemanha? Será que um professor “debita” quatro vezes mais matéria? A resposta parece óbvia. Pois bem, isto mostra o ridículo da citação. Conheço muito bem a realidade Alemã. O problema não está no desempenho dos trabalhadores. Muito menos no “esforço” despendido, que Belmiro parece sugerir. O Problema está na cadeia de valor em que a Economia assenta. Ou ainda na fixação dos centros de decisão.
Não vou aqui fazer de juiz em casa própria, da empresa onde trabalho. Mas facilmente encontro vários outros exemplos. A Auto Europa, perante as mesmas métricas de análise que as suas congéneres, é em Portugal que apresenta os melhores resultados. O índice de Produtividade dos seus empregados é “Benchmarking” à escala Europeia. É também amplamente reconhecido o alto nível de desempenho de um Emigrante numa qualquer empresa fora do País. O seu profissionalismo é normalmente reconhecido como exemplar. O problema está muito mais adjacente à organização do trabalho do que ao “esforço bruto” no seu desempenho. Ora, isto faz ricochete ao empreendedorismo da nossa elite empresarial. É débil a mentalidade na forma de criar riqueza. Isto indicia que o problema Produtividade está mais do lado de quem gere, organiza, educa e qualifica, do que de quem trabalha.
A PRODUTIVIDADE do trabalho de um País é expressa pelo PIB (Produto Interno Bruto) a dividir pelo número de pessoas empregadas, ou pelas horas de trabalho despendidas. O crescimento deste rácio está inerente às competências/qualificação da mão-de-obra, dos progressos tecnológicos, das novas formas de organização. São transversais, no sucesso da Produtividade, o conhecimento, a criatividade, a inovação e a formação. Produtividade não é somente maior quantidade de trabalho. É principalmente melhor qualidade do Produto ou serviços. Produtividade não é baixar salários, mas eliminar desperdícios sem valor acrescentado para o cliente. É motivar e não desmotivar as pessoas. É dar-lhes importância. É definir-lhes objectivos fazíveis para se auto-responsabilizarem. É motiva-las a participar no processo de melhoria contínua…. O que impressiona é o facto de o maior empresário Português não se ter referido a nenhum destes atributos. Que pobreza Franciscana! Talvez Belmiro sugira que todos nós devemos nos dedicar à agricultura. Fazer um retrocesso no País e voltar aos anos 60/70 onde quase todos trabalhavam no sector primário. Ora aí está um bom exemplo: todos eram desqualificados e trabalhavam muito e muitas horas. E com um esforço Físico assinalável. Mas qual o output? Qual era o rendimento? Pobreza, seguramente. Paradoxalmente este é um “status” irrevogável: mais trabalho árduo induz, quase sempre, em menos Produtividade. Existe uma lei do rendimento decrescente, quando colocamos muita gente a executar uma tarefa duma forma rudimentar. Os produtos agrícolas rentáveis não são os que empregam muita gente, mas sim os organizados em plataformas de grande escala e com alfaias ou equipamentos optimizados. Isso é que gera Produtividade. Eu repudio tudo o que se aproxima do cinzentismo do passado. Quando este País era uma anedota. Talvez este seja o País que agora muitos imploram. Porque tal como no passado tende a haver uma minoria de privilegiados do sistema. Essa minoria não requer talento, apenas “compadrio”. Não produz riqueza apenas consome os escassos recursos do País. Não acrescenta seja o que for, a não ser para os próprios. E ainda por cima se regozijam com o empobrecimento dos outros. Entendo o “saudosismo” de muitos. Não vejo isto ser rebatido pelas Elites ou fazedores de opinião. Esta é uma doença Grave.
“Bater” em quem trabalha parece fácil e está em voga. É um discurso politicamente correcto para um leque de empresários que foram vencidos pela vida. Estagnaram. Não aceitaram as oportunidades do progresso. Quiseram impor a seu modelo obsoleto. Uma mentalidade fechada, deplorável. Quiseram continuar a ser os mesmos “testa de ferro “ de sempre. Não acreditaram na formação, na qualificação ou na valorização da componente trabalho. Uma confrangedora inacção e incapacidade de mudança. Perderam. Foram derrotados. Mas à “bom Português” sacodem a água do capote. Nota 20 para a maledicência e incutir a culpa aos outros (Governo, Políticos, Sociedade, Estado, Trabalhadores, Cultura, pequenez geográfica do País, D. Afonso Henriques, Mouros, da seca, da chuva, dos barrocos,…). Mas nota negativa na autocritica, no empreendedorismo, na capacidade de gerir recursos, na Inovação, na antecipação da mudança…
Um exemplo paradigmático de paralisia total. Todas as semanas faço a A1. E regularmente paro numa estação de serviço. Ao observar o serviço de cafetaria fico perplexo com o que constato. Quando faço a viajem ao meio da semana, verifico que existem muito poucos clientes, e simultaneamente conto um total de 6 empregados que estão claramente subocupados. Quando passo á sexta-feira, pode acontecer ao fim da tarde ou ao princípio da noite. Ora, isso faz toda a diferença pois existem muitos mais clientes ao fim da tarde que no período na noite. O que é curioso é que o número de empregados (6) é o mesmo em ambas as situações! Existe um outro cenário, que é a véspera de um fim-de-semana prolongado. Existe literalmente uma invasão de pessoas nas estações de serviço. Mas sabem quantos empregados estão a atender nesta circunstancia limite? Os mesmos 6!!! Isto, meus amigos, é elucidativo. Pergunto, qual a produtividade destes empregados nestas situações? Fácil entender que é baixa quando não existem clientes, mas também baixa quando existem mais clientes, pois observei que muitas pessoas abandoaram as filas e desistiram, dado a o tempo de espera e a ineficiência do serviço. E abandonar significa insatisfação, insatisfação significa perda do cliente e de outros potenciais clientes. Imaginem agora extrapolar este exemplo para uma empresa exportadora. O não ajustamento do recurso mão-de-obra, gera um sobrecusto quando tem baixa de encomendas, e uma ruptura quando as Encomendas aumentam. Logo, também aqui o cliente acaba por “ir embora” (como na estação de serviço). Estes dois cenários são factores de não competitividade. Logo de baixa Produtividade.
Existe uma outra questão, para mim também fulcral. A acrescentar à medíocre organização de gestão do trabalho de muitas das empíricas empresas Nacionais, acresce o problema da Flexibilidade. Como defendo, a solução não passa pela redução dos salários, mas sim por uma aposta na cadeia de valor do produto e uma melhor mobilidade. Porque como descrevi nos exemplos acima, o excesso ou falta de trabalhadores é suicida para a competitividade de uma empresa. O problema não está no salário, mas há que admitir que não existem mecanismos legais (código trabalho) que ajudem as empresas a uma maior mobilidade. Mais ainda, quando a débil flexibilidade que existe é por si “cara/dispendiosa” ou não competitiva. Tenho uma “overall picture” da Europa, e concluo que é em Portugal que é mais caro (em termos relativos) o trabalho Extra ou por exemplo o Subsidio de Trabalho Nocturno. Portanto voltando ao ratio acima de Produtividade (PIB a dividir pelas horas trabalhadas), o mesmo também melhora se o denominador for menor. Quer isto dizer que devem ser eliminados todos os tempos não produtivos ou de pura subactividade. Não há volta dar, não pode existir emprego se não houver trabalho. Esta é uma máxima que deve ser defendida como princípio basilar na Economia e nos Negócios.
Voltando a Belmiro. Reconheço-lhe muitos méritos. Já o elogiei vezes sem conta, no passado. É meritória a obra na Sonae Indústria. Julgo ainda hoje ser líder mundial na produção de aglomerados de madeira. Produz e exporta riqueza. Não é este um bom exemplo de produtividade?! Seguramente. Ora, parece então que o problema é esta deriva catastrofista e populista que assolou o País. Não é valorizado o bom exemplo, o desempenho, ou a audácia de arriscar. O que é notícia é o disparate, ou a desgraça alheia, ou então o expor da pobreza. A ausência de massa crítica é confrangedora.
A Estratégia de empobrecimento, agora legitimada pelo governo, deve ser revertida. Não sair da dicotomia: Subir Impostos VS cortes é aniquilar a Economia. Estamos a discutir o quê?! Que se deve reduzir salários 5% ou 10%?! Que se devem cortar pensões ou funcionários públicos?! Isso pode ser doloroso mas é FÁCIL para quem decide. DIFICÍL é criar riqueza. Difícil é puxar pela Economia, não liquida-la. Difícil é ter Iniciativa e não inacção. Difícil é mudar / permutar e não estagnar. Difícil é estimular e não assustar. Difícil é ousar, não desculpar. Difícil é ser-se optimista e não profeta da desgraça. Difícil é ser-se progressista e não Velho do Restelo. Difícil é ter-se ideias e não ser um pau mandado. Difícil é optimizar os recursos e não desmantela-los. Difícil é qualificar os Recursos Humano e não promover a emigração. Já aqui abordei o sucesso no sector do calçado. Há meia dúzia de anos foi feito um esforço significativo para modernizar este segmento de mercado. Qualificar e não desqualificar. Investir e não desinvestir. Progredir e não retroceder. Aumentar a cadeia de valor do produto e não assentar a capacidade produtiva em salários baixos. Acrescentar valor pela criação de “Marca”, Design, Marketing, Promoção, Imagem, I&D,…
Reitero: está na moda atacar e desvalorizar a o factor trabalho. Ao bater-se na “força de trabalho” esconde-se uma latente mediocridade de empreendedorismo. Definitivamente não me revejo na actual Estratégia de retrocesso na desqualificação dos recursos. Quando esta mesma estratégia e ambição são representativas de alguns (repito, alguns) empresários (como Belmiro) é deveras preocupante. Este é um equívoco que vai deixar uma herança pesada. A apologia da pobreza deve ser severamente castigada. Hoje.
Um abraço
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