segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
Qual o Líder Carismático que a “direita” sempre sonhou ter ?
Numa recente entrevista ao semanário Expresso, José Sócrates surpreendeu com a seguinte citação « Eu sou o Líder forte que a direita sempre sonhou ter» Muitos ficaram perplexos , outros respiraram fundo , outros tiveram que voltar a ler ,.. Eu não tive dúvidas. Esta é uma verdade incontornável. Goste-se ( alguns ) ou não goste ( muitos), Sócrates é uma figura carismática .Porque tem uma personalidade forte. Porque é amado e odiada simultaneamente. Porque tem ideias e um projecto. Porque tem uma visão política relevante. Ora quando assim é, o escrutínio feito é pleno. Diria que Sócrates é singular. Podem multiplicar ainda mais os fazedores de opinião, ou programas de analise política com politólogos, mas será a opinião de Sócrates (ou uma simples entrevista) que será tema de debate obrigatório. Isto é magnetismo puro. Para que não restem dúvidas: se concordo que Sócrates é o Líder que a direita sempre quis ter , António José Seguro é o Líder que a direita sempre quis ter…mas na Oposição. Pois,...
Grosso modo a cultura política que nos domina sugere que :É melhor ser-se amado que ser-se temido Eu sugiro “Maquiavel” : é melhor ser-se temido pelos adversários do que amado. Isto explica-se facilmente. Não reza a História de nenhum Líder carismático que não fosse odiado pelos seus adversários, à altura. Não ficou na história nenhum Líder que não criasse rupturas com o existente “status quo”. Os outros, uma imensidão de muitos, não são incomodados pelos adversários. São até ignorados. Ora isso é factual. Os Líderes medíocres servem apenas um interesse : o próprio, ou o corporativo, e até o dos próprios adversários. Paradoxal ? Não de todo .
A “direita” (não comungo/gosto desta conotação ideológica) rouba para a si a ideia de autoritarismo, disciplina e capacidade de liderança. Reconheço que existe aqui alguma legitimidade. Mas existe um problema. De que servem esses atributos se não forem consubstanciados por um Líder Carismático? Quando pergunto a muitos dos meus amigos qual o Líder carismático do Centro direita, respondem-me citando Sá Carneiro (ou o primeiro mandato de Cavaco). Ora, este recuo, no tempo é muito relevante. É como pensarmos que existe um projecto, uma convicção, mas uma não Liderança que o possa corporizar. É aqui que Sócrates entra como o suposto Líder forte que a direita não tem, mas que gostava de ter. Muitos continuarão a não concordar. Entendo , mas não têm razão. Fundamento, a seguir , porquê
De aqui faço a minha transposição para um paralelismo bem presente.
Muitos dos meus amigos fanáticos do meu Clube ( SLB) odeiam Pinto da Costa.
Pois eu não, meu amigos. Sei que muitos não me vão perdoar pelo que vou dizer . Quero que Pinto da Costa e o seu Clube percam nas competições caseiras ( o que é normal), mas não entro no resto do “choradinho” . Pelo contrário reconheço o trabalho meritório de Pinto da Costa na criação duma marca de excelência ( FCP). É facilmente identificada, por esse mundo fora. É reconhecida a boa Gestão de recursos. Mas principalmente por uma Liderança competente. Os resultados são claros. Sucesso desportivo ,com um orçamento mediano. As estatísticas dizem-nos que é o clube Europeu com melhor “superavit” na relação compra /venda de jogadores. Se Pinto da Costa não fosse bom no que faz não gerava tanto ódio .Se não tivesse carisma não era idolatrado pelos seus e repudiado pelos adversários mais fanáticos. Mas sabem o que é curioso ? É ouvirmos de Benfiquistas e Sportinguista a diabólica sentença : « O que nós precisávamos era de um Pinto da Costa , como Presidente!» Isto não pode ser mais elucidativo. As semelhanças com o “statement” de José Sócrates, são brutais.
O ataque permanente a Sócrates é delinquente. É deplorável. E é uma farsa os que insistentemente, nas redes sociais, escrevem futilidades em relação a Sócrates. Noutra analogia , faz-me lembrar o ataque cerrado a Obama pelo “Tea Party” (a corrente mais radical do Partido Republicano) Tal como nos Estados Unidos, também cá lamento a figura patética com que alguns dos meus amigos continuam a escrever e a delirar em relação a Sócrates Reconheço que já me começa a dar alguma indiferença, o facto de alguns não aguentarem tanto ódio. Pelo contrário, começa a dar pena o seu sofrimento !. É como as claques dos clubes, sofrem quando são derrotadas, ou quando os outros são sistematicamente melhores.
.. Esta semana um amigo meu dizia-me que um dos problemas da herança de Sócrates são os juros elevados para financiar a sua actividade empresarial Tem razão. Principalmente quando se verifica a baixa da taxa de referência do Banco Central Europeu ( mínimo histórico) , mas que adicionado o “spread” dos bancos o custo do capital chega mais caro que nunca ao empresário / Investidor. Ora esta é uma verdade difícil de entender. Mas “linkar” esta dificuldade a Sócrates parece-me um absurdo, como tive oportunidade de lhe replicar. O que mais me choca é a falta de inteligência ( ou conveniência) em muitos não entenderem o antes de depois da crise de 2008 .Penso mesmo que é estratégico para se desculparem, o facto de não querem entender. Pois bem , eu vou voltar a lembrar. Antes da crise do “subprime” e posterior crise da dívida , o governo anterior atingiu o défice mais baixo da democracia Portuguesa (2,8%) Mais significativo ainda , porque foi conseguido sem receitas extraordinárias. Pela primeira vez se registou um saldo positivo na balança comercial (excluindo o défice energético- daí a aposta estratégica nas alternativas) . Mas nem tudo se esgotava na performance financeira. Ora , existia à altura um projecto para o País. Uma ideia. Um plano. Um caminho. Uma Estratégia. Era o plano tecnológico, Eram as energias renováveis, era o simplex , era uma aposta inequívoca na educação. Eram lições de pragmatismo como o ensino do Inglês. Era a “revolução” dos computadores “Magalhães”. Era a aposta na modernização de sectores tradicionais como o calçado (explicarei a seguir em detalhe) . Noutra vertente , era o ousar pôr em causa os interesses corporativistas em detrimento do interesse geral ( Magistrados, Médicos, Políticos -limitação de mandatos, ..). Era o ataque a sectores protegidos que não obedeciam a uma lógica de mercado ( Farmacêuticos). Obviamente tudo isto desagradou. Obviamente tudo isto criou ódio. Principalmente ao sistema instituído. Principalmente aos que sempre se refugiaram numa zona de conforto ( do “papá” ou do interesse corporativista que os blindava). Repito , antes da crise de 2008 as métricas macro da economia nacional estavam com tendência positiva , e simultaneamente respirava-se um projecto para o País. A seguir veio a crise. Dizimou tudo e todos. Pior seria se essa previa tendência não tivesse sido positiva. Cometeu Sócrates erros no pós crise ? Sim muitos . Por exemplo : aumentou de 2,9% dos funcionários públicos , baixou 1% o IVA, substituiu bons Ministros ( Maria de Lurdes Rodrigues , Correia de Campos) por Ministros medíocres ( Isabel Alçada, Ana Jorge ), aceitou liderar um governo com minoria parlamentar ( o único da União Europeia, à altura). Mas o problema capital que acelerou a crise da dívida e o “bail out” á economia Portuguesa foi a queda do governa e não aprovação do PEC IV . Pintem este quadro da maneira que quiserem , o tempo irá repor a verdade dos mais cépticos. A Troika é uma consequência da crise política. Portugal teria resistido como a Espanha e Itália, onde o Governo não caiu. Voltando à frustração do meu amigo em relação aos elevados juros para financiar o seu negócio, volto-lhe a dizer que tem razão na substância , mas não, na causa efeito que os induziu. A estratégia de Sócrates era progressista, de modernizar o País , de diminuir o peso do estado no sector empresarial ( não social) , de tornar o País competitivo e atractivo ao investimento. Aposta clara no empreendedorismo, Com isto, meu amigo Pedro , as taxas de juro baixariam e não entrariam em escalada.
Os Líderes fracos fazem o contrário do que vos descrevi antes da crise , ou seja, desculpam-se de não fazer , logo quase não geram contraditório. São cobardes e seguem o politicamente correcto. Jamais gerarão entusiasmos ou confiança. Jamais ficarão na história
Apenas um exemplo numa imensidão de tantos outros que vos descrevi genericamente, e que começam agora a vir ao de cima, como azeite. A OCDE revelou esta semana o extraordinário progresso na Educação, ultrapassando mesmo a Suécia em alguns ratios. Quem foi o mentor desta estratégia ? Seguramente o PM da altura , mas também a melhor Ministra da Educação da Democracia Portuguesa ( Maria de Lurdes Rodrigues). Muitos ainda não concordam. Certo. Mas garanto que , com o tempo, serão cada vez mais a concordar. Não foram os sorrisos de Isabel Alçada ( no mesmo governo) que incutiu qualquer reforma ou progresso. Muito menos o desastre “Crato” que sempre me incumbi de anunciar. (Li esta semana que agora o Modelo de Crato é o sueco, quando o mesmo entrou em descalabro. Realmente este Ministro tinha jeito para a maledicência, mas quando chamado a fazer ,… é de fugir) Mas lembram-se do “coro” de críticas a Maria de Lurdes Rodrigues ? Repito , o azeito vem sempre ao de cima, não se deixa misturar .E dá sempre bons resultados.
Não resisto, ainda, em vos voltar a falar do sucesso do sector do Calçado. É outro notável exemplo de aposta bem sucedida na criação de riqueza. Repito , criar riqueza , não é fazer cortes ( isso é fácil ). Voltou a ser premiado, desta vez em concorrência com o champanhe Francês. Isto mostra que Liderança é ser ousado e não fatalista É estimular e não empobrecer. Ora de aqui surge outa lição : não há sectores obsoletos na Industria Portuguesa. Uns modernizam e vencem , outros desvalorizam, desqualificam e morrem. Estou a diferenciar muitos empresários , mas estou principalmente a separar as águas em relação aos governantes. Hoje existe uma mensagem absorvente para liquidar a Economia. Antes havia incentivos ao empreendedorismo . Veja-se , na Indústria do calçado foi criado um centro tecnológico pela via do PEDIP. Apostou-se na cadeia de valor do produto , como o estudo da agronomia do pé , de novos matérias de maior qualidade. Aposta no jato de água para cortar peles, aposta na distribuição e Marketing em mercados de elevado poder de compra . Não , este não é o Modelo de mão de obra barata , ou desvalorização social que nos querem agora incutir. Apostar em salários baixos e desqualificados, é uma estratégia suicida. Até porque numa economia cada mais global , vai haver sempre alguém a produzir a custo mais baixo. O Modelo definido e apoiado pelo governo anterior para o sector do Calçado é um exemplo paradigmático a seguir. Tudo isto para vos dizer que na minha opinião é fundamental ter um Projecto para o País ,mas não é menos relevante ter um Líder que o execute
Dêem as voltas que derem, mas a “direita” há muito que não tem um Líder carismático. Antes da crise de 2008 , era comum citar-se que o a “direita “ precisava era de um Sócrates. Tal como os Benfiquistas e Sportinguistas pensam no seu intimo que o que eles precisam é um Pinto da Costa. Tudo isto é “Leadership” . Pode-se treinar , não se compra, não se transfere , não se aliena , não se decreta. É fundamentalmente inato ao ser humano. Quando um Líder é forte , é naturalmente odiado pelos inimigos mais fundamentalistas. Mas mais tarde ou mais cedo é lhe reconhecido o devido valor. O conservador “Winston Churchill” ganhou a guerra e perdeu as eleições a seguir. Mas o tempo julgou-o , a posteriori, como um dos mais brilhantes estadistas da história .E curioso é o facto único de ter voltado a ser eleito uns anos mais tarde !
Governar é cada vez mais desagradar. Decidir é cada vez mais complexo e difícil. Os Líderes fracos não decidem, são populares no momento. Mas entram aceleradamente em esquecimento. Defendo-o de há muito tempo: o problema mais grave do nosso País é a suposta massa crítica assentar em elites fracas e falhadas. O ataque permanente e maledicente a Sócrates é boçal e primário. Por isso e definitivamente, prefiro os Líderes que são odiados pelos adversários mais fanáticos. Adversários ignóbeis .
Um abraço
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