sábado, 26 de janeiro de 2013

Regresso aos Mercados: O Sucesso e a Hipocrisia

      Regozijo-me com todas as boas notícias para o meu País. O regresso aos mercados é uma extraordinária notícia. É um momento histórico, até porque a história poderia aqui acabar. A colocação de divida foi um sucesso. A procura excedeu as expectativas, o que indexou um juro relativamente baixo, apesar de superior ao actual que nos é cobrado pela Troika . Esta exposição aos mercados, apesar de simbólica, é uma janela de oportunidade que pode funcionar como âncora ao financiamento da nossa Economia, dos nossos bancos e empresas. Este é um dado significativo que pode fazer com que o crescimento económico e a criação de emprego, não sejam palavras vãs. Acho até, por bem, as boas notícias serem celebradas. O governo tem também essa legitimidade. Foi meritório o trabalho técnico, por exemplo, da Secretaria de estado do Tesouro, Maria Luís Albuquerque.     
      Tudo isto, dito desta forma faz sentido. Mas existe aqui um problema que fere de morte a Legitimidade deste governo cantar vitória. Já lá vamos. Queria antes recordar aos meus queridos amigos o que aqui escrevi a alguns meses atrás nos artigos ( “Passos Coelho, o Provinciano” ,e “Jorge Jesus, o deslumbrado vencido” ), quando tentei explicar, na minha opinião, as potenciais soluções para a  Crise da divida e os instrumentos exequíveis á disposição do banco Central Europeu ( BCE) :
«« Mario Draghi ousou confrontar Merkel e ganhou. Através dos Instrumentos do BCE segui um caminho diferente. Por uma vez a Alemanha de Merkel foi derrotada, e os mercados reagiram quase apoteoticamente. Alguma duvida ? Não. Esta foi a única boa noticia que o governo Português aferiu no seu mandato. Os juros baixaram, a pressão sobre a crise da Divida foi atenuada. O que é inacreditável é que Passos Coelho torceu o nariz ao pragmatismo de Draghi em abono a sua “chefe” Angela. Ou seja , o nosso Primeiro Ministro não apoiou a única boa noticia concedida aos Portugueses . Isto é irreal, para não dizer trágico, meus amigos.»»
     Escrevia no Verão passado, e o tempo deu-me razão. O Super Mario Draghi representa a única vitória de uma Europa vencida pela política errática que prossegue. Com as iniciativas de compra de divida no mercado secundário e a fixação de um patamar record de 0,75% da taxa de referencia do BCE , os juros não param de descer, e a divida dos Países em dificuldades ficou blindada a efeitos especulativos. Passados alguns meses estes são os resultados : A Irlanda foi aos mercados , Portugal fê-lo esta semana, a Espanha e Itália financiam-se agora as taxas competitivas , e mais notável ainda : a Grécia não saiu da zona Euro.  
    Draghi é a figura emergente desta Europa cansada dos seus Líderes. É agora Irónico ver os Políticos festejarem as conquistas de Darghi, as quais antes se oponham e na primeira linha com Merkel, como lembrei, em Junho do ano passado. É esta a hipocrisia que queria lembrar, e pelo que li, não foi devidamente focalizada na comunicação social. Mas mais absurdo é quando nos vem dizer que o sucesso desta emissão de divida acontece pela credibilidade do nosso governo. É atroz e inqualificável. Mas qual credibilidade? A do falhanço de défice (se excluirmos as receitas extraordinárias, lodo irrepetíveis)? A do falhanço da divida (que chegou agora ao valor record de 120% do PIB) ? A do falhanço do crescimento económico? Ou como nos querem vender, o sucesso deve-se a uma questão de confiança. Mas confiança em quê? Em nos terem dito que 2012 era um ano de transição e que o crescimento vinha em 2013?  Depois era 2014 ! agora já falam em 2016 !?  Mais grave que o falhanço total nestes ratios, é o rasto que vai deixar na Economia. A mesma que está prestes a implodir com Impostos, austeridade e desemprego. Este “status” sim, vai ser um herança insuportável!
     Já se percebeu que na perspectiva do nosso Governo  e de alguns comentadores , as boas noticias  são méritos do executivo, mas quando a “coisa” corre mal a culpa é do anterior governo. Será que depois de tanta exaltação de Pseudo méritos, ainda vão ter “ lata” de voltar a culpar o passado, nos próximos dois anos de mandato!? Este é o argumento dos fracos. Este é o argumento de quem perde o debate Político.
    Elogiei o trabalho da Secretaria de Estado, mas foi confrangedor ver, por exemplo, Paulo Portas aos “pulinhos” de satisfação com omnipresença nas televisões. O mesmo Portas que na altura de dificuldades como a trapalhada da TSU , andava em missões diplomáticas no mundo árabe ! Deplorável.  Sinceramente, já me “enoja” ver todos os dias os medíocres e os impreparados a por a culpa sempre aos outros. Já me “enoja” os incapazes a acobardarem-se pela cultura da maledicência.
   Concluo, como comecei, estas são boas noticias para o nosso País e para a Europa. É um passo simbólico, mas paradoxalmente significativo para o financiamento da Economia. Como na altura comentei, Draghi  estava certo no “timing”. Lançou um “míssil” e acertou em cheio no abismo da política de Merkel. Foi suficiente? Não, longe de isso. A questão estrutural e política continua permutativa e não modificativa. Os que perderam o debate, não reconhecem os méritos de quem ousou ganhar. Logo não vão mudar.
Um abraço a todos
Joaquim