segunda-feira, 28 de março de 2011

A apoteose da irresponsabilidade

O governo caiu. Compreendo o contentamento de alguns, pelo facto de governar significar cada vez mais desagradar. Mais evidente ainda nas circunstancias actuais onde não existe alternativa á austeridade. Mas outros rejubilam-se. Celebram, amplamente, aqueles que culpam sempre os outros e o Governo pelas suas próprias frustrações. Pelo seus auto insucessos. Mas até quando ? Não, não haja ilusões porque os que estão para vir vão ser as suas próximas vitimas. Os cobardes nunca assumem seja o que for, não tomam partido de nada, não dão a cara para não tirarem a cabeça da areia. O problema, meus amigos, é que as reformas necessárias neste país são suportadas pela linguagem de “ tasca “ que invade a comunicação social através daqueles que têm a responsabilidade de ser a suposta massa critica do País . É impossível para um Governo minoritário vencer esta mediocridade. Quando os cobardes são os analistas e os fazedores de opinião está decretada a ruína duma sociedade.

Estive na Alemanha a semana passada. A semana que acabou em crise politica. Acompanhei á distancia os acontecimentos, logo longe do ruído habitual. Ouvi e li a impressa internacional, mas também a opinião dos meus colegas locais . A perplexidade era total. Os mais entendidos que acompanham e investem nos mercados, falavam do impulso no euro e das bolsas após o programa de austeridade apresentado pelo governo Português ( pec iv). O euro valorizava, os juros da divida soberana baixavam. A execução orçamental ultrapassava as expectativas , com um “superavit” histórico . As expectativas da cimeira europeia eram boas com intuito do FEEF (Fundo Europeu de Estabilização Financeira) poder comprar directamente divida no mercado secundário, criando assim um tecto para os juros. A alternativa era (vai ser agora!) o FMI com juros acima dos 11% (como a Irlanda e Grécia). Tudo isto conjugado com o unanimíssimo coro de elogios de todas as instituições e quadrantes políticos : OCDE , União Europeia , Banco Mundial ,BCE, agências de notação financeira. Estava a ser bem feito o que devia ser feito.

Só que a seguir veio a bomba atómica. A oposição chumbava no parlamento o pec iv – na minha opinião, a apoteose da IRRESPONSABILIDADE. Foi como trabalhar duro, com muitos sacrifícios e a seguir morrer na praia. O castigo deveria ser severo, para que irrepetível. O senhor Presidente da Republica foi o primeiro incendiário desta tragédia, com aquele lapidar discurso de tomada de posse. Inédito discurso este, de um PR cheio de ódio. Faccioso em vez de aglutinador. Dividiu em vez de unir. Atacou em vez de reconciliar . Demagógico, ao pedir redução de despesa, mas com limite aos sacrifícios! Atacou o governo mas acabou por “entalar” e condicionar o PSD, não lhe dando qualquer espaço de manobra para negociar seja o que fosse. Tudo isto induziu na queda do governo. Veja-se o que aconteceu a seguir.... Não, os mercados não se enganam. As agencias de notação financeira cortaram dois níveis o rating do País, só com um único facto : a queda do governo. Pelos vistos só na mediocridade da opinião dos makers em Portugal é profetizava que o governo era o empecilho dos mercados ! (se não fosse trágico dava vontade de rir !) A Chanceler Angela Merkel fez uma violentíssima critica á oposição em Portugal . Estavam á espera de quê? Que sejam os contribuintes alemães a pagar pela irresponsabilidade dos meninos bonitos da oposição!? Ou será dos auto intitulados incorruptíveis e segundo os quais os outros têm que nascer duas vezes para lhe chegarem aos calcanhares !! Não penso que Cavaco fosse um mau Primeiro Ministro, mas tenho a certeza que está a ser um péssimo Presidente da Republica. O pior dos últimos. É ele o primeiro logo o principal responsável desta crise Politica.

Quando regressei e ainda no aeroporto liguei o radio. Não queria acreditar nas duas noticias que ocupavam o espaço mediático.
A primeira era que o líder da oposição , ainda com as orelhas a arder – pós raspanete em Bruxelas , defendeu a eventual subida do IVA . Como ? Então não tinha implorado uma semana atrás a redução da despesa do estado e proibição da subida de impostos ! Notável para quem ainda só está na oposição , mas já com tantas vertigens! Como já referenciei neste Fórum , penso que apesar de tudo Passos Coelho está um pouco acima da decadência progressiva dos últimos Lideres laranjas.
Mas a outra noticia era ainda mais Brutal : com um governo demissionário, apesar da ainda não dissolução da Assembleia da Republica pelo PR, a oposição no parlamento brinda-nos com a revogação da avaliação dos professores. Não cria acreditar em tal oportunismo Politico. Nem sequer se disfarça a caça ao voto corporativo e deferimento do interesse Nacional . Deixo as perguntas : como vão explicar aos professores que se esforçaram para ter boas notas ? Quem, partindo daqui, vai fazer reformas na educação? O poder ficou na rua e nos Sindicatos. A mensagem que fica é de Laxismo em vez de exigência. Facilitismo em vez de Ambição. Inacção em vez de Reformismo. Esta é a maior das ilusões, porque infantil e perigosa.

Sinceramente não me revejo neste patamar “reles”. A antítese e a solução é só uma : liderança forte. Esta não se cultiva, ajusta ou manipula. Ou se tem ou não tem. A mediocridade dos fazedores de opinião tentou “matar” este primeiro ministro , pare eles continuarem a sua carreira de suicídio para o país . Vou agora falar de Sócrates e da sua liderança .
Se ainda fosse hábito atribuir cognomes, Sócrates seria certamente recordado pelo de lutador.
Nenhum outro político, desde o 25 de Abril, sofreu tanto ataque, tanta censura, tanto ódio. Nenhum outro Politico foi tão determinado em inverter o status quo. Nenhum outro foi tão corajoso em enfrentar a corja dos interesses instalados e cooperativistas. Se não fosse brilhante não tinha resistido tanto tempo a gente que vive na chafurdice da intriga e da insinuação, e que têm como única arma para justificarem a sua própria nulidade, o ataque pessoal de quem avança e reforma . Atacar Sócrates dá direito a título em prol de vaidade pessoal. O resto dá sono. Aqui emerge Sócrates como um lutador , alguém que não cede ou abandona só porque é difícil ou impopular . Raros são os políticos com tamanha força de determinação. O que exaspera mais os seus opositores, pois a recente história portuguesa mostra como é mais fácil e compensador desistir. Fugir .

Tenho a certeza que depois de assentar a poeira, muitos farão a história. E aí irremediavelmente serão saudosistas do carisma de Sócrates como estadista. Veja-se, Sócrates quando chegou ao poder, o País estava em recessão e com uma crise orçamental. O país, não a Europa. A Europa estava em expansão económica. Nessa altura os Países do sul da Europa já tinham corrigido o padrão da economia. A nossa cadeia de valor assentava na mão de obra intensiva, sem valor acrescentado e competitividade. Assim, as nossa grandes referência eram a Grécia ( objecto de comparação e de lamurias) e a Irlanda ( esse grande modelo económico a seguir !) . Pois bem , chegamos a Março de 2011 , e o que aconteceu ?? A crise financeira mergulha a economia global na maior recessão da historia. Todos sem excepção (que não é novidade !) Nessa altura traçaram o destino do País. «que iria bater imediatamente na parede , que seria o primeiro a cair , que não iria existir dinheiro para pagar salários , e claro que a culpa da crise ( pasme-se !) era de Sócrates !etc,..etc» .

Pois bem, com a maior crise da história , com a necessidade de converter definitivamente o estrutura da economia e das exportações , com as reformas em curso na educação , saúde e administração publica , com um esforço simultâneo de investimento em energias alternativas e na modernização de país ( investimento significa Esforço agora ,para retorno no Futuro ), e com o ataque especulativo dos mercados ao euro , logo ás economias mais periféricas, .... Então o que aconteceu ? Qual foi resultado ? Todos esperavam o apocalipse ! Pois bem , o País resistiu e não entrou em bancarrota, nem foi resgatado . Não só não caiu, como foram os outros que se a afundaram. E porquê !!?? Porque Sócrates resistiu, lutou, trabalhou e puxou incondicionalmente pelo país. Procurou como uma energia impar o investimento externo , e a procura de diversificação da divida para aliviar os seus encargos . Tantas e tantas vezes era o único timoneiro, o resto, eram desculpas e incapacidade. Ou pura inveja e maledicência . Antes e depois do governo cair , convido os meus amigos a ler ou reler o que a imprensa internacional escreveu ( Wall Street Journal , FT , The NYT , WP , Die Zeit , Faz , El País, ABC, Figaro ,...). Estes não mudaram a tónica porquê o governo caiu, reconheceram-lhe mérito . Os mercados não são emotivos, mas brindam a competência. Cá dentro o importante era assassinar , ...o timoneiro. Sobram-me as palavras !!!!....

Fácil é falar mal . Ridículo é faze-lo permanentemente . Indecoroso é assumi-lo como uma cultura. Os que me conhecem bem, sabem que em nenhuma circunstancia me escondo. O que acabo de escrever é contra a maré, e o politicamente correcto. Fácil é ser-se pessimista e ir-se na onda . Ser-se optimista dá trabalho .
Não vejo a politica, como um clube de futebol . Se “mataram” o mais brilhante Politico da democracia Portuguesa , é-me agora indiferente quem vai ser ( á excepção de António Costa ) o novo Primeiro Ministro, seja : Passos Coelho , Francisco Assis , Rui Rio , Antonio Vitorino, Antonio Borges , Jose Seguro, Jaime Gama . Ou se quiserem num patamar de mediocridade : Ferreira Leite , Manuel Alegre , Marques Mendes , Maria Carrilho , Ana Gomes ,Aguiar Branco ,...

Deixo-vos, neste ultimo paragrafo, o pessimismo de um optimista – por isso conta muito.


Um grande abraço
Joaquim